Decorreu, no passado dia 22 de novembro, mais uma edição dos “Jantares do Tiergarten”, no Hotel Pestana, em Berlim. A homenagem literária coube, desta feita, a José Saramago (1922-2010), Nobel da Literatura, em 1998. O mote em torno do qual foi discutida a sua obra – “Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara“ – deu aso a muitas indagações: o que nos mostrou e mostra Saramago? Quais são as suas inquietações sociais e metafísicas? Como é que esta vasta obra nos continua a interrogar?
Numa apresentação viva e colorida de detalhes acerca da vida e obra de José Saramago, Luísa Coelho, atual leitora do Camões-Instituto da Cooperação e da Língua, fez esquecer o cheiro tentador do magnífico buffet preparado para os convivas. E falar de José Saramago não implica só o homem: implica a evocação aprofundada de uma época que viveu, nacional e internacionalmente, vários períodos conturbados, desde a Segunda Grande Guerra até à revolução de 25 de abril. Implica ainda falar de História da Literatura e dos diferentes movimentos literários que se sucederam e conviveram em Portugal, sobretudo do Neorrealismo e do Existencialismo. Implica falar de momentos-chave da vida intelectual portuguesa do Século XX (fundação da revista Vértice, por exemplo). E na cascata discursiva, todos os elementos foram incluídos e explicitados.
Entre saladas, bacalhau com natas, coelho à caçador e demais iguarias, houve espaço para leituras de poemas escolhidos, de excertos de “A Viagem do Elefante” e de crónicas de José Saramago, em alemão e em português. As vivas leituras, a cargo da tradutora de Saramago Niki Graça e do tradutor-intérprete Fernando Almeida, na pesença de Marianne Gareis – outra tradutora de algumas obras do autor na Alemanha, poderão ter deixado arrefecer um prato ou outro, mas aqueceram o ambiente de convívio literário que se impunha.
Antes de um “até breve” e depois da visualização de uma curta-metragem de animação baseada num conto para crianças de José Saramago (“A Flor Maior do Mundo”, disponível no You Tube em http://www.youtube.com/watch?v=TGgC7C2wI-g ), o Embaixador de Portugal em Berlim, Luís de Almeida Sampaio, teve a oportunidade de evocar Saramago, nomeadamente a relação deste com os partidos políticos e a forma como a sua obra literária acaba por ser, paradoxalmente, apartidária.
Recorde-se que os “Jantares do Tiergarten” são uma iniciativa de Luísa Coelho, com o apoio do Camões e da Embaixada de Portugal em Berlim. Em edições anteriores, de entre os homenageados, estiveram já Eça de Queirós e Fernando Pessoa. O próximo encontro literário-gastronómico, prometeu já Luísa Coelho, será alusivo ao Fado, contará com uma exposição sobre este tema e música ao vivo. Motivos suficientes para fazer “crescer água na boca”!
Sílvia Melo-Pfeifer